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  • gabriela725

Não é possível viver sem sentir dor!



 

Claro que não é gostoso sentir dor. E aqui, me refiro a dor de uma forma ampla, ou seja, tudo o que dói: tristeza, raiva, frustração, culpa, baixa-estima e tudo o que nos faz doer por dentro. Mas será que é possível viver sem doer?

Aprendemos desde cedo a nos desviar dos sentimentos negativos. Vejo muitos pacientes no consultório que ao primeiro sinal de dor, começam a entrar no lugar do fazedor. O fazedor não tem tempo de sentir, o fazedor só faz e assim se anestesia da vida. Inventamos coisas para não sentir dor. Entramos numa rotina frenética o que é socialmente bem aceito e bem visto. Nossa sociedade adora fazedores! Ócio é coisa de preguiçoso! Isso é um prato cheio para continuar o plano “infalível” de me afastar do que dói aqui dentro.

Outro aspecto das emoções negativas é que muitas vezes, elas vêm acompanhada de culpa. “Me sinto culpada por me sentir triste, pois eu deveria ser grata”. Ou “me sinto culpada por sentir raiva, como posso sentir raiva? É feio sentir raiva”. A culpa é um sentimento que nos afasta de nós mesmos. A fuga destes sentimentos é implacável! Gasta-se muita energia para jogar tudo isso para debaixo do tapete. A questão é que quando não queremos olhar para algo, aquilo vai se tornando maior, avassalador. Até um momento em que não aguentamos mais. Caímos de exaustão de fugir. A fuga fica mais cara que a dor e nos sentimos esgotados até o limite. Começa a faltar energia para realizar as tarefas do dia a dia. Nosso esgotamento vai consumindo tudo. É muito comum neste cenário um episódio depressivo. Mas a depressão vem justamente no sentido de fazer olhar para a dor que não quisemos ver. Nossa psique é um sistema inteligente de auto regulação.

Já tiveram um sonho parecido com este? Se veem fugindo de alguém, ou de algo e acordam de sobressalto. “Ufa, ainda bem que era um sonho!” Muitas vezes, estes sonhos vêm para nos alertar. Enquanto não encaramos a fera e entendemos do que estamos fugindo, ela não vai embora. Mas muitas vezes, a gente entra no auto engano de uma forma tão intensa que, por um instante, acreditamos que podemos amputar esses sentimentos do nosso ser. Assim, vamos vivendo pela metade.

Mas como encarar a fera? Encarando, admitindo-se que aí dentro tem dor. Dor de raiva, de impotência, de solidão, de culpa, se se sentir menos do que os outros, se se achar incompetente, etc. Neste caminho, quando vamos nomeando a dor e dando um significado para ela, vamos encontrando um alívio e um sentido para aquela dor.

Já pararam para pensar que a anestesia dos sentimentos e a intenção de amputá-los faz com que a gente perca contato com nossos instintos? Vou explicar. Por exemplo, a raiva pode ser uma ferramenta poderosa nas relações. Você sabia? A raiva nos ajuda a perceber quando passamos dos nossos limites. A raiva tem o potencial de transformar as relações, pois ela me permite dizer o que não gosto. Permite me posicionar e não aceitar relações destrutivas, por exemplo.

Faço uma analogia com a dor física. A dor física existe para nos proteger de algum perigo. Por exemplo, quando coloco minha mão em algo quente, aquela dor me avisa de que se não retirar minha mão dali, vou me queimar. Se não sentíssemos dor, viveríamos machucados e estropiados por aí.

 

Congelamos nossas emoções muitas vezes por padrões aprendidos na infância ou traumas. Temos que ter a coragem de pensar fora da caixa. Temos que resgatar aquela criança serelepe, nosso lado criativo, para compreender estes padrões de um lugar que faça mais sentido. Não podemos deixar congelar este aspecto, já que ele é a semente, a mola propulsora que nos faz querer olhar para nosso amadurecimento pessoal e nos deixar ser uma pessoa mais inteira, sem amputações do que sentimos. Olhando desta forma, ainda bem que as dores existem!

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